11 março 2008

das coisas finitas.

- eu não te amo mais. ela disse enquanto me olhava, analisando a minha reação. e então frisou: - eu não te amo mais. e talvez nunca tenha amado. dessa vez doeu. eu também não amava ela mais, mas achava que a convivencia era suficientemente boa pra não ter que morrer sozinho. e no auge dos 67 anos dela, ela parava na minha frente e dizia que não me amava. aquela mulher que sempre fez o meu almoço e o meu jantar, com pratos diferentes só pra servir um capricho meu. aquela mulher que sempre separava a roupa que eu ia botar depois do banho. eu só conseguia me perguntar porque ela estava me dizendo isso só agora, porque não tinha me dito quando eu era mais jovem e tinha tempo de encontrar outra mulher pra morrer junto. eu olhei pra ela com olhar de repreensão e disse: - põe a mesa do jantar que já tá tarde. ela pôs a mesa do jantar, me serviu, jantou comigo, assistiu o jornal e ficou até a hora de dormir. quando eu fui dormir eu sabia que nunca mais iria ver ela.


Um comentário:

Julia Liberati disse...

e o seu, hein??? me conta uma novidade maravilhosa, vai...